Com manejo do solo, biodiversidade e certificações ambientais, produtores rurais ganham novo ativo: o crédito de carbono
Em 2025, a agricultura regenerativa deixa de ser uma tendência emergente e se consolida como uma das grandes transformações do agronegócio brasileiro. O que antes era visto como prática alternativa, hoje movimenta bilhões em investimentos, impulsiona cadeias produtivas inteiras e conecta sustentabilidade à lucratividade no campo.
Com técnicas que vão desde a rotação de culturas e uso de adubação orgânica até a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), a agricultura regenerativa busca recuperar a saúde do solo, aumentar a biodiversidade e capturar carbono da atmosfera. No Brasil, estima-se que mais de 5,4 milhões de hectares já adotam práticas regenerativas, especialmente nos estados de Mato Grosso, São Paulo, Maranhão, Pará e Goiás.
O carbono como nova commodity do agro
Um dos principais atrativos econômicos da agricultura regenerativa é a possibilidade de geração de créditos de carbono. Esses créditos representam a captura ou a não emissão de gases de efeito estufa e podem ser vendidos no mercado voluntário ou, futuramente, no mercado regulado. Em 2025, com o avanço do Marco Legal do Mercado de Carbono no Congresso, estima-se que o agro brasileiro poderá gerar até R$ 25 bilhões por ano em créditos até 2030.
Produtores que adotam práticas como recuperação de pastagens, uso de bioinsumos, plantio direto, fixação biológica de nitrogênio e manejo regenerativo já começam a ser remunerados por essas ações. Plataformas como BCarbon, BioAssets, Moss.Earth e ClimateSeed já intermediam a certificação e venda desses créditos.
Certificações e exigência dos mercados internacionais
A rastreabilidade ambiental e a adoção de certificações vêm se tornando exigência dos grandes compradores globais. Programas como Regenagri, Rainforest Alliance, Certifica Minas, Rede ILPF e o selo ABC+ têm impulsionado a adoção de boas práticas e ampliado o acesso a mercados premium.
Empresas como Nestlé, Carrefour, Louis Dreyfus, Marfrig e Amaggi têm firmado parcerias com produtores regenerativos, buscando cadeias de suprimento de baixo impacto e associadas a metas de descarbonização.
Desafios e necessidade de escalabilidade
Apesar dos avanços, a agricultura regenerativa ainda enfrenta desafios significativos. A falta de assistência técnica, as dúvidas sobre metodologias de medição de carbono e a complexidade do processo de certificação são gargalos apontados por agricultores e cooperativas. Pequenos e médios produtores, em especial, enfrentam mais dificuldades para acessar o mercado de carbono.
O governo federal lançou o programa RenovaAgro em 2025, com foco em capacitação, linhas de crédito verdes e incentivos fiscais. A proposta é escalar o modelo e garantir que todas as regiões produtivas do país possam integrar a transição ecológica de forma justa e lucrativa.
Do solo à atmosfera, o agro brasileiro redefine valor
A agricultura regenerativa está mudando o significado de produtividade no campo. O que antes era medido apenas em sacas por hectare, agora incorpora biodiversidade, carbono e sustentabilidade como indicadores reais de valor. Em um cenário de mudanças climáticas, exigências ambientais e pressão de mercado, o produtor que regenerar o solo também regenerará sua margem de lucro.
Fontes: Embrapa, IPAM, ABC+, MAPA, BCarbon, BioAssets, Moss.Earth, CNA, ClimateSeed