Mudanças climáticas, floradas desuniformes e estresse hídrico reduzem potencial da safra de laranja no cinturão citrícola do Brasil
O Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) divulgou no dia 9 de maio de 2025 a estimativa oficial da safra de laranja 2025/26 para o cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro. O anúncio, feito em evento técnico transmitido ao vivo pelo YouTube da instituição, trouxe uma projeção de queda relevante na produção, reforçando a necessidade de monitoramento climático e ajustes de manejo no campo.
A estimativa inicial aponta para uma colheita de aproximadamente 294,17 milhões de caixas de 40,8 kg, volume 12% inferior ao da safra anterior, que havia registrado 334,2 milhões de caixas. A retração é atribuída principalmente às condições climáticas adversas ocorridas entre setembro de 2024 e março de 2025, período crucial para florada, frutificação e pegamento dos frutos.
Floradas desuniformes e impacto direto no rendimento por planta
As floradas em 2024 foram fortemente influenciadas por um regime irregular de chuvas, que resultou em induções fora de época e pegamento desigual de frutos. Isso comprometeu a homogeneidade das lavouras e dificultará o planejamento da colheita, já que haverá grande dispersão entre ciclos precoces e tardios.
Segundo os técnicos da Fundecitrus, o rendimento médio esperado por planta caiu de 2,27 caixas para 2,01 caixas por árvore, refletindo o estresse hídrico e a menor taxa de fixação de frutos. A baixa umidade do solo em fases críticas do desenvolvimento, além de episódios pontuais de calor extremo, também comprometeram o calibre e o peso médio das laranjas.
Desafios no campo e resposta da indústria
O cenário desafiador levou produtores a intensificarem práticas de manejo como adubação foliar, irrigação localizada e controle mais rigoroso de pragas como o greening. Ainda assim, os custos de produção seguem pressionados e há preocupação com a rentabilidade, especialmente para pequenos e médios citricultores.
Por outro lado, a indústria de suco de laranja vê o momento como uma janela para manter estoques em níveis equilibrados, já que a safra anterior foi considerada positiva. O recuo na oferta deve influenciar os preços da fruta in natura e do suco concentrado, beneficiando contratos futuros e exportações.
Perspectivas e vigilância climática
Com a possibilidade de transição para o fenômeno La Niña no segundo semestre de 2025, o setor já se prepara para um novo ciclo de instabilidades climáticas, o que torna ainda mais importante o uso de ferramentas de previsão, seguros agrícolas e redes de monitoramento fitossanitário.
Especialistas da Fundecitrus alertam que a variabilidade climática será um fator cada vez mais estruturante no planejamento citrícola, exigindo investimento contínuo em resiliência produtiva.
Laranja sob pressão em um ano de ajustes
A safra 2025/26 será marcada por desafios no campo e por reacomodação de fluxos na cadeia industrial. A menor produção não apenas impacta os citricultores, mas também redesenha o equilíbrio entre oferta e demanda no mercado internacional. A laranja, fruta símbolo do agro paulista, exige agora não só cuidados técnicos, mas uma estratégia sistêmica para manter sua competitividade em tempos climáticos desafiadores.
Fontes: Fundecitrus, CitrusBR, Cepea, Climatempo, Embrapa