Setor sente os efeitos da baixa procura, estoques altos e câmbio desfavorável
A demanda pelo milho brasileiro sofreu forte retração ao longo de abril, resultando em uma queda expressiva de 9% no indicador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). O preço da saca de 60 kg, que no início do mês era cotado a R$ 87,71, encerrou abril a R$ 80,13. Esse recuo reflete não apenas a menor movimentação interna e externa, mas também o acúmulo de estoques da safra verão e a dificuldade nas negociações de exportação.
Consumo interno desacelera
Um dos principais fatores para o desaquecimento do mercado de milho está no consumo doméstico, que segue enfraquecido. As indústrias de ração animal, que representam a maior parcela da demanda interna, reduziram o ritmo de compra. A menor atividade nos setores de suinocultura e avicultura, especialmente em estados como Santa Catarina e Paraná, colabora para esse quadro. Muitos frigoríficos operam abaixo da capacidade, pressionados por margens estreitas e custos logísticos elevados.
Do lado externo, o milho brasileiro enfrenta desafios significativos. Com o dólar oscilando na faixa de R$ 5,00 a R$ 5,10 durante boa parte do mês, a competitividade internacional do grão ficou comprometida. Países compradores, como Irã, Egito e Coreia do Sul, voltaram-se para mercados alternativos, onde encontraram preços mais atrativos, especialmente nos Estados Unidos e na Argentina. Além disso, a guerra no Mar Vermelho elevou os custos de frete marítimo, contribuindo para o encarecimento das exportações brasileiras.
Estoques cheios e compradores ausentes
Com a colheita da safra de verão praticamente finalizada, muitos produtores ainda mantêm grandes volumes estocados à espera de melhores preços. No entanto, a cautela dos compradores e o adiamento das negociações têm mantido os armazéns cheios. Essa combinação gera um ciclo de pressão negativa nos preços, já que os vendedores, em busca de liquidez, são forçados a aceitar valores menores para concretizar negócios.
Expectativa para a segunda safra traz alívio e tensão
Enquanto isso, as atenções se voltam para a safrinha, cuja colheita começa a se desenhar nas próximas semanas. A perspectiva climática favorável em estados como Mato Grosso, Goiás e parte do Mato Grosso do Sul alimenta projeções positivas. Contudo, a possibilidade de uma superoferta no segundo semestre preocupa os analistas, pois a demanda não dá sinais de recuperação imediata.
Armazenagem, logística e cenário global
A infraestrutura de armazenagem no Brasil, ainda deficitária em muitas regiões, pode ser mais uma vez colocada à prova. Se os preços continuarem em queda e os produtores decidirem segurar a produção, a pressão sobre os silos será intensa. O cenário se agrava com os gargalos logísticos no escoamento para os portos, especialmente em ano de menor competitividade internacional. O cenário global, com estoques mais folgados em países concorrentes, também contribui para manter os preços deprimidos.
A queda no preço do milho tem impacto direto sobre a rentabilidade do produtor, especialmente aqueles que adquiriram insumos a preços elevados no início do ciclo. A relação de troca entre milho e fertilizantes, por exemplo, se deteriorou em abril. Muitos agricultores relatam dificuldade em fechar a conta e apontam para a necessidade de políticas de apoio mais eficazes para atravessar a turbulência de mercado.
Mercado futuro sinaliza cautela
No mercado de contratos futuros da B3, os preços do milho com vencimento para julho e setembro seguem pressionados. O volume de contratos abertos indica um mercado cauteloso, com players evitando posições longas diante da incerteza quanto à recuperação da demanda. Operadores aguardam os dados mais atualizados da Conab e do USDA para calibrar as expectativas.
Setor pede medidas de estímulo
Diante do quadro desafiador, entidades representativas do agronegócio têm pressionado o governo federal por medidas emergenciais, como linhas de crédito com juros mais baixos e extensão de prazos para financiamento agrícola. O objetivo é dar fôlego ao produtor e evitar uma liquidação generalizada da produção, o que poderia comprometer ainda mais os preços.
Sinal de alerta ligado
O mês de abril encerrou-se com sinal de alerta aceso no setor de grãos. A queda de 9% no indicador do milho não representa apenas uma oscilação momentânea, mas sim o reflexo de um mercado em desequilíbrio, onde excesso de oferta, demanda enfraquecida e cenário internacional adverso convergem para um ciclo de pressão. A reação nos próximos meses dependerá da retomada da demanda, de ajustes no câmbio e da atuação governamental.
Fontes: Cepea, Conab, USDA, CNA, Abramilho