Ex-presidente critica ‘apaziguamento moderno’ de Trump diante de Putin e reacende debate sobre liderança global americana
Em entrevista incisiva concedida à BBC nesta semana, o ex-presidente Joe Biden acusou Donald Trump de defender uma política de “apaziguamento moderno” diante de Vladimir Putin, comparando a postura do republicano à estratégia de concessão feita a Adolf Hitler antes da Segunda Guerra Mundial. A fala marca um novo capítulo no já acalorado debate sobre os rumos da política externa dos Estados Unidos, especialmente em relação à guerra na Ucrânia.
Biden criticou duramente as declarações de Trump de que seria possível encerrar o conflito “cedendo parte da Ucrânia” à Rússia. Para o democrata, tal postura representa um risco não apenas à soberania ucraniana, mas também à estabilidade da ordem internacional. “Você não pode recompensar um agressor com território e esperar que a paz dure. Isso não é liderança, é rendição”, disse Biden.
Trump promete paz rápida e enfrenta resistência interna
Enquanto tenta voltar à Casa Branca em 2025, Donald Trump insiste que, sob sua liderança, a guerra teria terminado “em 24 horas”. No entanto, ele não esconde sua disposição em aceitar concessões territoriais, contanto que os combates cessem. Seu vice, JD Vance, rejeitou as exigências mais recentes de Moscou, mas deixou claro que a atual administração republicana está inclinada a “soluções práticas” — um eufemismo que acendeu alarmes entre aliados da OTAN.
Analistas apontam que essa linha de negociação favorece diretamente os interesses russos, enfraquecendo os laços dos EUA com seus parceiros europeus e com a própria Ucrânia, que continua resistindo à ofensiva militar iniciada em fevereiro de 2022.
Biden admite falhas, mas mantém postura firme
Apesar de manter um discurso de resistência à Rússia, Biden reconheceu que sua gestão demorou a fornecer armas de longo alcance à Ucrânia — fato que dificultou a contraofensiva de Kiev em momentos cruciais. Ainda assim, defendeu que a cautela visava evitar uma escalada global e garantir apoio multilateral em todas as frentes, algo que, segundo ele, Trump desmantelaria “em questão de meses”.
Alianças em risco: OTAN, G7 e a credibilidade americana
Para especialistas em geopolítica, o maior temor é o impacto que uma eventual volta de Trump teria nas alianças históricas dos EUA. Durante seu mandato, ele ameaçou sair da OTAN, criticou o G7 e flertou com lideranças autocráticas. Biden, por outro lado, tem investido em reconstruir pontes com a Europa e em fortalecer blocos multilaterais.
“Estamos diante de uma disputa entre duas visões opostas: a de um mundo baseado em regras e alianças, e a de um mundo onde interesses individuais prevalecem”, avalia Samantha Powers, ex-embaixadora dos EUA na ONU.
A guerra da narrativa americana está longe de acabar
O embate entre Biden e Trump vai muito além da eleição de 2024. Ele reflete uma divisão profunda sobre o papel que os Estados Unidos devem exercer no mundo. Para Biden, ceder terreno a Putin é abdicar da liderança global. Para Trump, é apenas “negociar com inteligência”. No fim, a escolha entre firmeza e pragmatismo — ou entre fraqueza e cumplicidade — caberá ao eleitor americano.
Fontes: BBC, El País, The Guardian, CNN, Brookings Institution