Com foco na safra 2025/26, país acelera substituição de importações, investe em biofábricas e amplia a adoção de insumos biológicos no campo
Em meio às pressões externas, à alta volatilidade cambial e à urgência climática, o Brasil intensifica em 2025 a estratégia de nacionalização da cadeia de insumos agrícolas. A produção e o uso de bioinsumos — como inoculantes, biodefensivos, biofertilizantes e feromônios — crescem a passos largos, reposicionando o país como potência biotecnológica e reduzindo a dependência de produtos importados.
Dependência histórica dá lugar à produção nacional
Historicamente, o agronegócio brasileiro depende de importações para mais de 80% dos fertilizantes e defensivos químicos utilizados nas lavouras. A guerra na Ucrânia, os entraves logísticos no Mar Vermelho e o câmbio instável aceleraram o debate sobre soberania agroindustrial. A resposta veio por meio do fortalecimento do Programa Nacional de Bioinsumos e da criação de polos regionais de inovação.
Hoje, mais de 2.000 biofábricas — entre públicas e privadas — estão em operação no Brasil, fornecendo insumos personalizados para diferentes biomas e culturas. Estados como Mato Grosso, Paraná, Minas Gerais e Goiás lideram a expansão.
Adoção técnica e ganhos agronômicos
O uso de inoculantes e biodefensivos já é realidade em mais de 30 milhões de hectares, segundo o MAPA. Estudos da Embrapa indicam que os bioinsumos promovem o equilíbrio biológico do solo, reduzem a resistência de pragas e doenças e aumentam a eficiência no uso de nutrientes.
Além disso, muitos bioinsumos têm custo inferior aos químicos e apresentam menor impacto ambiental, o que facilita a obtenção de certificações e melhora a imagem do produtor junto a compradores internacionais.
Políticas públicas e investimento privado
O governo federal lançou, ainda em 2024, a Estratégia Nacional de Bioeconomia Agro com incentivos à pesquisa, linhas de crédito específicas e desoneração tributária para biofábricas certificadas. Ao mesmo tempo, grandes empresas do setor agroquímico (como Syngenta, UPL, Compass e Bayer) vêm adquirindo startups de base biológica, ampliando o portfólio e apostando em soluções híbridas.
Fundos de impacto ambiental também têm direcionado recursos a AgBiotechs nacionais, criando um ambiente favorável ao surgimento de inovações.
Desafios para consolidar a virada tecnológica
Apesar dos avanços, ainda há obstáculos: ausência de marcos regulatórios específicos, dificuldades de padronização e validação técnica, e lacunas na formação de técnicos e operadores. A integração entre academia, cooperativas, empresas e extensão rural é essencial para garantir escala, segurança e qualidade.
Bioinsumos como alicerce da independência agroindustrial
A expansão dos bioinsumos marca um novo capítulo na história agrícola brasileira. Mais do que tendência, eles representam um caminho estratégico rumo à independência produtiva, à sustentabilidade e à liderança global em agricultura regenerativa e de baixo carbono.
Fontes: MAPA, Embrapa, Programa Nacional de Bioinsumos, Conab, CropLife, CNA, Valor Econômico