Volume inspecionado para embarque reflete desaceleração da demanda e desafios logísticos
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgou nesta segunda-feira (6) que o volume de soja inspecionado para exportação totalizou 355.377 toneladas na semana encerrada em 2 de maio de 2025. Isso representa uma queda de 29,2% em relação à semana anterior, quando foram inspecionadas 501.736 toneladas. O recuo é ainda mais expressivo quando comparado ao mesmo período do ano passado, que registrou 563.609 toneladas.
China desacelera compras e preocupa mercado
O principal destino da soja norte-americana, a China, reduziu drasticamente suas aquisições nas últimas semanas. Analistas apontam que o país asiático tem se abastecido com produto brasileiro, cuja colheita da safra recorde de 2024/25 derrubou os preços e aumentou a competitividade frente à soja dos EUA. O recuo nas compras chinesas ocorre justamente em um período tradicionalmente mais aquecido, e é interpretado como sinal de alerta para os exportadores norte-americanos.
Brasil ocupa espaço e pressiona cotações
A forte presença brasileira no mercado global é uma das principais explicações para o recuo nas inspeções de embarque nos EUA. Com portos operando em ritmo acelerado e estoques abundantes, o Brasil tem ampliado sua participação em destinos historicamente atendidos pelos norte-americanos, como México, Indonésia e até partes da União Europeia. A soja brasileira, beneficiada por uma logística mais eficiente nesta temporada e câmbio favorável, tem chegado ao mercado internacional com maior competitividade.
Cenário interno dos EUA também pesa
Além da concorrência externa, os EUA enfrentam gargalos internos que dificultam o escoamento da produção. Problemas climáticos ao longo do Rio Mississippi e nos principais corredores ferroviários elevaram os custos logísticos, atrasaram carregamentos e reduziram a eficiência das exportações. Ao mesmo tempo, a demanda doméstica por esmagamento (crushing) também perdeu força, reduzindo o ritmo de saída dos estoques.
Mercado reage com cautela e revisões nas projeções
A queda nas inspeções motivou revisões de curto prazo nas projeções de exportação para o trimestre. O próprio USDA sinalizou que pode rever suas estimativas nas próximas atualizações do WASDE (World Agricultural Supply and Demand Estimates), a depender da continuidade do enfraquecimento nas vendas externas. O mercado futuro em Chicago reagiu com ligeira baixa nos contratos de soja para julho, refletindo o temor de excesso de oferta interna.
Impactos globais e expectativa por recuperação
Apesar da retração momentânea, parte dos analistas ainda acredita em uma retomada parcial das exportações norte-americanas até o final do trimestre, especialmente se houver recomposição de estoques em mercados como China e Filipinas. No entanto, a tendência de médio prazo aponta para um cenário de maior protagonismo do Brasil no comércio global da soja, o que obrigará os EUA a rever estratégias comerciais e políticas de incentivo.
Pressão estrutural sobre o mercado dos EUA
A queda de 29,2% no volume de soja inspecionado para exportação em uma única semana não é apenas um dado isolado. Trata-se de um reflexo das mudanças estruturais em curso no mercado global, que desafiam a posição tradicional dos EUA como principal fornecedor do grão. Entre logística, clima, demanda e geopolítica, o cenário impõe ajustes e maior atenção aos sinais do mercado internacional.
Fontes: USDA, Reuters, Bloomberg, WASDE, Rabobank