Oferta limitada, qualidade irregular e demanda regionalizada interrompem desvalorização
Depois de sucessivas semanas de baixa, o mercado de feijão carioca deu sinais de recuperação e fechou o mês de abril com estabilidade nos preços. Segundo levantamento do Cepea atualizado até 05 de maio de 2025, a saca de 60 kg do tipo 8 nota 9 foi cotada em R$ 265,00 nas principais praças de São Paulo, levemente acima dos R$ 255,00 registrados na terceira semana de abril. O movimento foi impulsionado por uma combinação de fatores conjunturais e regionais que reduziram a pressão sobre os produtores.
Colheita atrasada e padrão abaixo do ideal
Em várias regiões produtoras, como Minas Gerais, Goiás e o Distrito Federal, o avanço da colheita foi prejudicado por chuvas pontuais e problemas de manejo. A qualidade dos grãos ficou aquém das expectativas em muitos casos, o que limitou a disponibilidade de lotes classificados como premium. Com menos produto apto a atingir os padrões exigidos pelo varejo, os preços deixaram de cair e passaram a se sustentar em patamares mais firmes.
Reposição no varejo ajuda na sustentação
A demanda interna, embora sem grandes saltos, apresentou certo dinamismo no fim de abril, com destaque para os mercados do Sudeste e Nordeste. A necessidade de recompor estoques após o escoamento motivado por feriados prolongados ajudou a manter o ritmo de negócios, especialmente para os grãos de melhor aparência. Esse comportamento do varejo contribuiu para equilibrar a relação entre oferta e procura.
Estoques curtos e comerciantes mais cautelosos
No atacado, muitos operadores reduziram suas posições nas semanas anteriores apostando em quedas adicionais que não se concretizaram. Com os estoques enxutos e a qualidade dos novos lotes ainda incerta, houve uma retomada moderada das compras, o que também sustentou os preços. A escassez de feijão de boa qualidade nos centros de distribuição elevou o interesse por lotes selecionados.
Futuro incerto e pouca previsibilidade
Apesar da pausa na desvalorização, o horizonte ainda é instável. A oferta da segunda safra deve ganhar corpo nas próximas semanas, mas há dúvidas sobre o volume e a regularidade dos grãos. A baixa liquidez do mercado futuro de feijão mantém o produtor exposto às variações de curto prazo, dificultando estratégias de hedge e planejamento mais estruturado.
Um alívio pontual sob risco de reversão
O fim de abril representou um respiro para os produtores de feijão carioca, mas o cenário permanece vulnerável. A interrupção nas quedas de preço reflete fatores transitórios — como atraso de colheita e compras emergenciais no varejo — e não uma retomada estrutural do mercado. A manutenção da estabilidade dependerá da qualidade da nova oferta e do comportamento da demanda interna nas próximas semanas.
Fontes: Cepea, Conab, IBGE, Abras