Escalada tarifária entre potências movimenta mercado global e pode reposicionar Brasil como protagonista em commodities estratégicas
A crescente tensão comercial entre Estados Unidos e China voltou a ocupar o centro das atenções do agronegócio global em maio de 2025. Após o governo americano anunciar um novo pacote de tarifas sobre produtos industriais e agrícolas chineses, Pequim reagiu prometendo retaliar com sobretaxas sobre importações dos EUA, incluindo soja, carne suína e milho. A disputa acirra novamente o tabuleiro das commodities — e abre, ao mesmo tempo, oportunidades e riscos para o Brasil.
Soja brasileira volta ao centro do tabuleiro global
A soja, principal produto da balança comercial do agronegócio brasileiro, surge mais uma vez como peça-chave na disputa sino-americana. Em 2018, o Brasil já havia se beneficiado do primeiro ciclo de tarifas entre os dois gigantes, elevando sua participação nas exportações à China para mais de 80%.
Agora, com novos embates tarifários, tradings como Cargill, ADM e COFCO já voltaram seus olhos para os embarques brasileiros. A demanda chinesa por soja não recua — e o Brasil, com safra recorde e logística ativa, deve aproveitar a janela para ampliar seu market share.
Carne bovina, milho e algodão: reposicionamento estratégico
Além da soja, outros setores podem se beneficiar. A carne bovina brasileira, que já tem forte presença na Ásia, pode ganhar ainda mais espaço com a saída parcial de fornecedores norte-americanos. O milho, cuja segunda safra começa a ser colhida em junho, também pode entrar no radar chinês caso as tarifas aos EUA se concretizem.
No setor têxtil, o algodão brasileiro já representa 30% do comércio mundial. Um bloqueio comercial entre EUA e China pode ampliar ainda mais essa participação, desde que o Brasil mantenha oferta e qualidade competitiva.
Riscos para o agro: dependência e instabilidade global
Apesar do possível ganho em curto prazo, especialistas alertam para os riscos estruturais. O aumento da dependência do mercado chinês pode tornar o agro brasileiro mais vulnerável a choques externos. Além disso, a instabilidade no comércio global afeta preços, contratos e fluxo de investimentos, criando um ambiente de incerteza para produtores e exportadores.
O presidente da CNA, João Martins, já destacou a necessidade de diversificar mercados e fortalecer acordos bilaterais com países da Ásia, África e Oriente Médio para reduzir a exposição ao conflito entre potências.
O Brasil entre oportunidades táticas e decisões estratégicas
A nova fase da guerra comercial entre Estados Unidos e China abre portas para o agronegócio brasileiro — mas exige cautela. Mais do que colher ganhos táticos de curto prazo, o setor precisa investir em inteligência comercial, diplomacia ativa e políticas de apoio à exportação para garantir resiliência em um cenário internacional cada vez mais volátil.
Fontes: CNA, Bloomberg, MAPA, USDA, Ministério das Relações Exteriores