Alta produtividade e dólar favorável impulsionam exportações, mas reforma tributária e clima seguem como riscos no radar
Em meio a um cenário global ainda instável, o agronegócio brasileiro entra em 2025 com projeções moderadamente otimistas, impulsionado por uma supersafra de grãos, dólar elevado e manutenção da demanda externa. Contudo, o setor também enfrenta incertezas ligadas à reforma tributária, à inflação dos custos de produção e aos impactos climáticos da transição do El Niño para La Niña.
Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o PIB do agro deve crescer entre 3,5% e 5,2% em 2025, puxado por soja, milho, café e proteína animal. As exportações seguem aquecidas, com destaque para os embarques de soja, que podem ultrapassar 100 milhões de toneladas, consolidando o Brasil como maior exportador global do grão.
Soja, carnes e café lideram pauta exportadora
Com a safra recorde de soja 2024/25 estimada pela Conab em mais de 155 milhões de toneladas, o Brasil tem ampliado sua presença em mercados como China, Indonésia, Bangladesh e Vietnã. O café também vive bom momento, com alta demanda por arábica premium e robusta industrial, impulsionada pela recuperação da demanda global pós-Covid.
Já no setor de carnes, o país continua expandindo seus mercados, especialmente para a carne bovina na Ásia e no Oriente Médio, mesmo com desafios sanitários e exigências de rastreabilidade ambiental mais rígidas.
Reforma tributária: risco ou oportunidade?
A tramitação da reforma tributária é acompanhada com atenção pelos produtores. Entre os principais pontos de preocupação estão a unificação de tributos, o fim de regimes especiais como o Funrural e o possível impacto nos custos logísticos. Por outro lado, especialistas apontam que, se bem calibrada, a reforma pode simplificar o sistema e reduzir a guerra fiscal entre estados, favorecendo investimentos no setor.
A CNA tem atuado junto ao Congresso Nacional para garantir que o agro seja reconhecido como setor estratégico e que medidas de compensação sejam incluídas para produtores rurais.
Custo de produção ainda elevado
Apesar da queda nos preços de fertilizantes em relação ao pico de 2022, os custos de produção seguem pressionados, especialmente por combustíveis, defensivos e frete. A valorização do dólar, embora favoreça as exportações, também encarece insumos importados.
Muitos produtores estão postergando investimentos ou buscando alternativas como bioinsumos e compras coletivas para reduzir despesas. O crédito rural, por sua vez, enfrenta juros mais altos, o que limita o acesso de pequenos e médios agricultores.
Clima: transição de fenômenos exige cautela
O final do El Niño e a possível entrada de um evento La Niña no segundo semestre de 2025 elevam a incerteza climática no campo. Estados como Rio Grande do Sul e Paraná podem sofrer com estiagens, enquanto o Norte e o Nordeste podem ter excesso de chuvas. Esse cenário requer planejamento técnico e maior uso de ferramentas preditivas para minimizar perdas.
Ano de transição e atenção estratégica
O agronegócio brasileiro entra em 2025 com potencial de crescimento, mas exigirá atenção redobrada dos produtores e formuladores de política pública. Oportunidades no comércio internacional, fortalecimento do agro digital e valorização de produtos sustentáveis compõem o lado positivo. Já os riscos tributários, climáticos e financeiros devem ser monitorados de perto para evitar perdas de competitividade.
Fontes: CNA, Conab, MAPA, Bloomberg, Rabobank, FGV Agro