Do campo à gôndola, inovação garante autenticidade, confiança e valor agregado à produção agrícola brasileira
A revolução digital no agronegócio ganhou um novo capítulo com a chegada da tecnologia blockchain. Inicialmente associada às criptomoedas, essa ferramenta baseada em registros descentralizados e imutáveis vem transformando a maneira como cadeias agroalimentares são rastreadas, auditadas e apresentadas ao consumidor.
No Brasil, onde o agronegócio responde por mais de 25% do PIB e exporta para mais de 200 países, garantir a origem, a integridade e a sustentabilidade dos produtos tornou-se uma exigência crescente de mercados internacionais e consumidores conscientes. Nesse contexto, o blockchain surge como um novo selo de confiança.
Como funciona o blockchain na cadeia agroalimentar?
O blockchain permite registrar todas as etapas do ciclo produtivo — desde a origem da semente, manejo do solo, uso de insumos, colheita, transporte, até o processamento final — em blocos de dados interligados e invioláveis. Cada transação ou evento é registrada por diversos participantes da cadeia e validada por consenso, formando um histórico imutável e auditável em tempo real.
Empresas, cooperativas e startups têm adotado plataformas como IBM Food Trust, OriginTrail, AgTrace, Trusty e Ecotrace para implementar essa tecnologia em cadeias de café, frutas, carnes, laticínios e grãos.
Casos reais e aplicações no Brasil
A cadeia do café especial brasileiro tem sido pioneira na adoção do blockchain. Cooperativas de Minas Gerais e Espírito Santo já utilizam plataformas para garantir a rastreabilidade do grão da fazenda à xícara, incluindo informações sobre práticas sustentáveis, certificações e histórias dos produtores.
No setor de proteína animal, frigoríficos como Marfrig, JBS e Minerva têm testado soluções blockchain para rastrear o gado desde a fazenda até a exportação, reforçando compromissos com desmatamento zero e bem-estar animal. A rastreabilidade digital também atende exigências da União Europeia e do novo Regulamento Antidesmatamento (EUDR).
Vantagens para o produtor e para o consumidor
Para o produtor, o blockchain representa a possibilidade de agregar valor ao produto, acessar mercados premium e diferenciar-se com base na transparência. Para o consumidor, garante acesso a informações confiáveis e detalhadas sobre a procedência e a sustentabilidade dos alimentos.
A tecnologia ainda contribui para mitigar fraudes, melhorar a logística e facilitar auditorias e certificações, reduzindo custos e tempo de resposta.
Desafios e escalabilidade
Apesar do potencial, a adoção ainda enfrenta desafios como custo inicial, conectividade rural, padronização de dados e capacitação técnica. Iniciativas como o Agro 4.0, o Programa RastreAgro e os polos de inovação tecnológica vêm trabalhando para democratizar o acesso à tecnologia no campo.
Confiança como ativo estratégico
O blockchain está redesenhando o valor da confiança na cadeia agroalimentar. Em um mundo que exige transparência, sustentabilidade e segurança, o agro brasileiro encontra na tecnologia uma aliada para se posicionar como fornecedor ético, rastreável e competitivo. O futuro da produção de alimentos passa por dados — e por cadeias que inspiram confiança desde a origem.
Fontes: MAPA, IBM Food Trust, CNA, Embrapa, Marfrig, Agro 4.0, Trusty, Ecotrace